Trilhou admirável caminho assumindo-se mulher, identificando-se como negra, posicionando-se como militante dos movimentos sociais e ousando enveredar pela política partidária, tornar-se vereadora, deputada estadual e a mais bem votada deputada federal da história do Piauí – trajetória intensa que durou quase toda a sua existência, até que, em pleno discurso, foi vítima de um aneurisma cerebral em 27 de julho de 2003, com 37 anos.
No bairro Água Mineral, onde residia, começou sua militância nos grupos de jovens da comunidade, onde liderou as organizações e as lutas dos jovens do Bairro e da periferia de Teresina. Foi Secretaria da Pastoral de Juventude do Meio Popular - PJMP da Arquidiocese de Teresina. A militância na Pastoral de Juventude, e nas lutas sociais, foi um passo para o ingresso na vida política. Foi uma das articuladoras no Estado da organização da Articulação Nacional do Solo Urbano. Participou ativamente como fundadora e dirigente da Central de Movimentos Populares. Foi fundadora e Presidente da Associação de Moradores do Bairro Água Mineral por duas gestões, daí partiu, com outros companheiros para a organização da Federação das Associações de Moradores e Conselhos Comunitários do Estado do Piauí (FAMCC), entidade que congrega várias associações de bairro, da qual foi também Presidente e diretora de habitação.
Trindade é reconhecida como defensora incansável dos direitos humanos dos oprimidos, excluídos, injustiçados e esquecidos, principalmente da comunidade negra. Enfrentou a violência do racismo e do machismo, desafiando uma burguesia que teimava em dizer que aquele não era o seu lugar. Ousou quebrar paradigmas, calar as dores aos inimigos e tantas vezes chorou com os amigos a dor de carregar na alma tantas Franciscas trabalhadoras deste país.
"Ao relembrar essa história, sou tomada pela emoção e pelo orgulho de ter convivido com essa mulher tão negra quanto eu e as muitas, reconhecidas ou anônimas deste País, e me vem à mente a incalculável dívida social luso-brasileira para com o povo negro, contraída sob o olhar complacente da humanidade, surda aos clamores das senzalas e dos quilombos. Ocorre-me que tal dívida é agravada por todas as linhas não escritas em nossa história de mulheres negras, nós que carregamos na alma a força das ancestrais, aquelas que mantiveram a altivez diante das chicotadas, que tiveram a coragem de renunciar à vida para não viverem mortas; rebelar-se, fugir, pra não se entregar, e ter ainda a doçura de acalentar nos peitos fartos de leite aqueles que não eram seus filhos"(Sonia Terra).
Filha de um pedreiro e de uma lavadeira, Trindade, 37 anos, é uma das políticas mais populares do Piauí. Nasceu num ambiente extremamente pobre, entrou nos movimentos sociais e comunitários e se transformou numa política mais respeitada do País.
Deputada federal mais votada da história do Piauí, com 165.190 votos, começou a carreira como liderança popular, coordenando a Pastoral da Juventude, ligada à Arquidiocese de Teresina, coordenadora estadual e nacional da Central de Movimentos Populares. Foi vereadora por duas vezes, em 1992 e 1996, e deputada estadual em 1998. “Trindade foi uma mulher corajosa, simples e lutadora. Perde o Brasil com a sua morte” disse Luiz Inácio Lula da Silva no seu velório.
São memórias que precisamos retomar todos os dias e noites, para valorizar cada conquista e fazer valer a luta pela liberdade, cidadania e respeito.
Salve, guerreira Trindade, amiga de sempre e para sempre!
FRANCISCA TRINDADE VIVE. VIVA A CMP!
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